ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO EM 2013 December 14, 2013
O recente mal desempenho das universidades brasileiras no cenário internacional ainda provoca debates. O Brasil não aparece mais “entre as 200 melhores no Ranking Mundial de Universidades 2013-2014, divulgado pela consultoria britânica Times Higher Education (THE).”* E entre os principais países emergentes, “há apenas quatro universidades brasileiras entre as cem melhores dos principais países emergentes, classificação feita pela primeira vez pela mesma THE.”*
Como trabalhei muitos anos no ensino superior, como professor e pesquisador, trata-se de um assunto que me interessa. Acredito que a crise é maior, e envolve a educação como um todo no Brasil e, claro, as suas políticas governamentais equivocadas como:
. mudança de modelos de avaliação;
. “maquiagem” nos números relacionados ao ensino – privilegiando a parte quantitativa em detrimento da qualidade -;
. maiores privilégios ao empresariado do que ao setor das escolas públicas;
. grandes investimentos em publicidade, como faz o Governo de Minas Gerais, no sentido de “disfarçar” a realidade educacional;
. desvalorização dos professores doutores nas faculdades particulares (com a demissão em massa desde 2007), entre outros fatores.
De fato, se o quadro geral é ruim, devem ser consideradas, especificamente no que diz respeito ao ensino superior, duas realidades distintas: as instituições públicas e as instituições privadas.
Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), aborda temas polêmicos na reportagem:
”nossas universidades são repartições públicas geridas burocraticamente e submetidas a políticas de salários isonômicos”. [Além disso, as universidades] “estão submetidas a pressões populistas como as de eleições diretas etc., que são incompatíveis como uma gestão mais forte e voltada para o desempenho e a excelência.”*
Este modelo de universidade pública, na verdade, tornou-se quase um “feudo”, algo fechado em si mesmo e distante da sociedade. Mesmo com a autonomia e os privilégios, essas universidades não conseguem destaque no cenário internacional.
No setor privado, a situação é bem pior. Ocorre o que alguns chamam de “mercantilização do ensino”. Contratam professores recém-formados, sem mestrado ou doutorado, e não investem adequadamente em infra-estrutura. Não existe novidade, por exemplo, em ver faculdades particulares que funcionam dentro de shopping centers. Após a flexibilidade quanto ao ensino superior proporcionada pela LDB de 1996, a situação piorou sobretudo com as estratégias usadas pelos proprietários em relação ao ensino a distância.
Arnaldo Niskier, ex-secretário de Educação no Rio, faz uma crítica geral:
“é mais que evidente o envelhecimento do nosso modelo educacional. Currículos ultrapassados, professores despreparados, recursos insuficientes, falta de vontade política nesse setor estrategicamente fundamental para o crescimento do país.”*
Tudo isso sem contar a imagem que o professor, de uma maneira geral, tem em todo o país. Isso lembra, aliás, uma ironia que o intelectual (e político) Gore Vidal fez em 2007:
“Ah, Noam [Chomsky]. Tem boa cabeça, mas é apenas um professor universitário.” (Gore Vidal, Época, 22-01-2007, p. 65)
Em suma, a crise da educação superior é mais complicada do que parece. Deve ser lembrado, por último, que tudo isso acontece num contexto no qual o neoliberalismo é hegemônico.
* Essas citações foram retiradas do texto de Merval Pereira. Caindo pelas tabelas. O Globo, 14-12-2013.
O recente mal desempenho das universidades brasileiras no cenário internacional ainda provoca debates. O Brasil não aparece mais “entre as 200 melhores no Ranking Mundial de Universidades 2013-2014, divulgado pela consultoria britânica Times Higher Education (THE).”* E entre os principais países emergentes, “há apenas quatro universidades brasileiras entre as cem melhores dos principais países emergentes, classificação feita pela primeira vez pela mesma THE.”*
Como trabalhei muitos anos no ensino superior, como professor e pesquisador, trata-se de um assunto que me interessa. Acredito que a crise é maior, e envolve a educação como um todo no Brasil e, claro, as suas políticas governamentais equivocadas como:
. mudança de modelos de avaliação;
. “maquiagem” nos números relacionados ao ensino – privilegiando a parte quantitativa em detrimento da qualidade -;
. maiores privilégios ao empresariado do que ao setor das escolas públicas;
. grandes investimentos em publicidade, como faz o Governo de Minas Gerais, no sentido de “disfarçar” a realidade educacional;
. desvalorização dos professores doutores nas faculdades particulares (com a demissão em massa desde 2007), entre outros fatores.
De fato, se o quadro geral é ruim, devem ser consideradas, especificamente no que diz respeito ao ensino superior, duas realidades distintas: as instituições públicas e as instituições privadas.
Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), aborda temas polêmicos na reportagem:
”nossas universidades são repartições públicas geridas burocraticamente e submetidas a políticas de salários isonômicos”. [Além disso, as universidades] “estão submetidas a pressões populistas como as de eleições diretas etc., que são incompatíveis como uma gestão mais forte e voltada para o desempenho e a excelência.”*
Este modelo de universidade pública, na verdade, tornou-se quase um “feudo”, algo fechado em si mesmo e distante da sociedade. Mesmo com a autonomia e os privilégios, essas universidades não conseguem destaque no cenário internacional.
No setor privado, a situação é bem pior. Ocorre o que alguns chamam de “mercantilização do ensino”. Contratam professores recém-formados, sem mestrado ou doutorado, e não investem adequadamente em infra-estrutura. Não existe novidade, por exemplo, em ver faculdades particulares que funcionam dentro de shopping centers. Após a flexibilidade quanto ao ensino superior proporcionada pela LDB de 1996, a situação piorou sobretudo com as estratégias usadas pelos proprietários em relação ao ensino a distância.
Arnaldo Niskier, ex-secretário de Educação no Rio, faz uma crítica geral:
“é mais que evidente o envelhecimento do nosso modelo educacional. Currículos ultrapassados, professores despreparados, recursos insuficientes, falta de vontade política nesse setor estrategicamente fundamental para o crescimento do país.”*
Tudo isso sem contar a imagem que o professor, de uma maneira geral, tem em todo o país. Isso lembra, aliás, uma ironia que o intelectual (e político) Gore Vidal fez em 2007:
“Ah, Noam [Chomsky]. Tem boa cabeça, mas é apenas um professor universitário.” (Gore Vidal, Época, 22-01-2007, p. 65)
Em suma, a crise da educação superior é mais complicada do que parece. Deve ser lembrado, por último, que tudo isso acontece num contexto no qual o neoliberalismo é hegemônico.
* Essas citações foram retiradas do texto de Merval Pereira. Caindo pelas tabelas. O Globo, 14-12-2013.