O BRASIL E O PhD (2009)
Raros são os países nos quais o PhD – aquele que possui doutorado – é valorizado. Ele é visto com respeito, mas, ao mesmo tempo, é percebido ainda como um excêntrico, alguém que estudou muito. Não há novidade nisto.
A universidade foi criada como um espaço de elite, que visava apresentar soluções para a comunidade. Umberto Eco lembra que, na Itália e em muitos países, existem também as universidades de massa, com cursos noturnos e estudantes pouco preparados para o exercício da pesquisa científica. O Brasil se enquadra neste último padrão. Atualmente, os universitários, em sua maioria, encontram-se em escolas particulares.
Em um artigo publicado na revista Caros Amigos (n. 120), em 2007, Alanna G. Garcia Alaniz afirmava:
“Nos últimos dois anos, a cada fim de semestre, surtos de pânico acometem o corpo docente das instituições particulares de ensino superior. É que esse é o período de “tiro ao doutor’ .”
Na sua opinião, essa realidade vinha desde 2005. Estamos em 2010 e nada mudou. O curioso, aqui no Brasil, é que a desvalorização do PhD ocorre dentro da universidade, o seu espaço por excelência. Uma coisa é o cidadão comum não entender exatamente a necessidade e o rigor da produção científica, outra é, dentro de um lugar que lida com o conhecimento, ser valorizado aquele profissional que sabe menos. Trata-se do elogio da ignorância.
O excêntrico, no caso do nosso país, é mostrado como tolo por ter estudado demais. Os outros que não estudaram e enriqueceram ou ocupam lugares importantes – como o presidente Lula – gostam de ressaltar que atingiram os seus objetivos sem ter que estudar e aqueles que fizeram faculdade se deram mal. Claro que por trás deste discurso de “novo rico” existe o recalque de não ter feito algo – um curso superior – na vida. Com seus carros e suas jóias, tentam demonstrar que isso não seria importante – uma negação que apenas reforça algo mal resolvido, o fracasso de não possuir um saber que o outro tem. O dinheiro não conserta isso. O dinheiro não resolve o complexo de inferioridade nem as outras neuroses.
Alguém que fez graduação, especialização, mestrado e doutorado, não o fez somente pensando em retorno financeiro. Quem realmente quer ganhar dinheiro, só isso, procura caminhos mais simples, como carreiras de jogador de futebol ou de celebridades televisivas – o que não são necessariamente atores, músicos ou jornalistas. O problema do PhD não é econômico, como quer fazer crer muitos proprietários de universidades.
A questão da sua desvalorização é algo mais complexo. É uma mensagem negativa que é transmitida para a sociedade: “saber menos é bom e ficar rico em um curto espaço de tempo é ser esperto”. Não surpreende, portanto, os altos índices de criminalidade de pessoas entre 15 e 21 anos. Além disto, a imagem de um país “pouco sério” só é reforçada no mercado internacional – não foi por acaso que o presidente Lula foi tratado ironicamente por vários meios de comunicação, como o jornal “Washington Post” e uma tv israelense (o vídeo ficou famoso no You Tube).
O lugar de um PhD é na universidade e ela deve apresentar como metas ensino, pesquisa e extensão. Não vamos inventar a roda. É isso. Fugir desta realidade é querer fazer o outro de tolo. É achar que pode enganar a comunidade internacional com índices forjados. É acreditar que é respeitado, quando, na verdade, é motivo de piada. Acreditam nestas ilusões justamente aquelas pessoas que sabem pouco e estudaram menos. Talvez se tivessem feito uma boa graduação, teriam elementos para questionar e ir além dos discursos oficiais.
Escolher “não saber” e “não estudar” é, de certa forma, escolher a fantasia e não a realidade. A fantasia não se refere somente ao outro ou à sociedade. Ela refere-se principalmente a si mesmo.
Raros são os países nos quais o PhD – aquele que possui doutorado – é valorizado. Ele é visto com respeito, mas, ao mesmo tempo, é percebido ainda como um excêntrico, alguém que estudou muito. Não há novidade nisto.
A universidade foi criada como um espaço de elite, que visava apresentar soluções para a comunidade. Umberto Eco lembra que, na Itália e em muitos países, existem também as universidades de massa, com cursos noturnos e estudantes pouco preparados para o exercício da pesquisa científica. O Brasil se enquadra neste último padrão. Atualmente, os universitários, em sua maioria, encontram-se em escolas particulares.
Em um artigo publicado na revista Caros Amigos (n. 120), em 2007, Alanna G. Garcia Alaniz afirmava:
“Nos últimos dois anos, a cada fim de semestre, surtos de pânico acometem o corpo docente das instituições particulares de ensino superior. É que esse é o período de “tiro ao doutor’ .”
Na sua opinião, essa realidade vinha desde 2005. Estamos em 2010 e nada mudou. O curioso, aqui no Brasil, é que a desvalorização do PhD ocorre dentro da universidade, o seu espaço por excelência. Uma coisa é o cidadão comum não entender exatamente a necessidade e o rigor da produção científica, outra é, dentro de um lugar que lida com o conhecimento, ser valorizado aquele profissional que sabe menos. Trata-se do elogio da ignorância.
O excêntrico, no caso do nosso país, é mostrado como tolo por ter estudado demais. Os outros que não estudaram e enriqueceram ou ocupam lugares importantes – como o presidente Lula – gostam de ressaltar que atingiram os seus objetivos sem ter que estudar e aqueles que fizeram faculdade se deram mal. Claro que por trás deste discurso de “novo rico” existe o recalque de não ter feito algo – um curso superior – na vida. Com seus carros e suas jóias, tentam demonstrar que isso não seria importante – uma negação que apenas reforça algo mal resolvido, o fracasso de não possuir um saber que o outro tem. O dinheiro não conserta isso. O dinheiro não resolve o complexo de inferioridade nem as outras neuroses.
Alguém que fez graduação, especialização, mestrado e doutorado, não o fez somente pensando em retorno financeiro. Quem realmente quer ganhar dinheiro, só isso, procura caminhos mais simples, como carreiras de jogador de futebol ou de celebridades televisivas – o que não são necessariamente atores, músicos ou jornalistas. O problema do PhD não é econômico, como quer fazer crer muitos proprietários de universidades.
A questão da sua desvalorização é algo mais complexo. É uma mensagem negativa que é transmitida para a sociedade: “saber menos é bom e ficar rico em um curto espaço de tempo é ser esperto”. Não surpreende, portanto, os altos índices de criminalidade de pessoas entre 15 e 21 anos. Além disto, a imagem de um país “pouco sério” só é reforçada no mercado internacional – não foi por acaso que o presidente Lula foi tratado ironicamente por vários meios de comunicação, como o jornal “Washington Post” e uma tv israelense (o vídeo ficou famoso no You Tube).
O lugar de um PhD é na universidade e ela deve apresentar como metas ensino, pesquisa e extensão. Não vamos inventar a roda. É isso. Fugir desta realidade é querer fazer o outro de tolo. É achar que pode enganar a comunidade internacional com índices forjados. É acreditar que é respeitado, quando, na verdade, é motivo de piada. Acreditam nestas ilusões justamente aquelas pessoas que sabem pouco e estudaram menos. Talvez se tivessem feito uma boa graduação, teriam elementos para questionar e ir além dos discursos oficiais.
Escolher “não saber” e “não estudar” é, de certa forma, escolher a fantasia e não a realidade. A fantasia não se refere somente ao outro ou à sociedade. Ela refere-se principalmente a si mesmo.