NORMAS CIENTÍFICAS: NOÇÕES BÁSICAS PARA A ELABORAÇÃO DE TRABALHOS NA UNIVERSIDADE
Prof. Dr. Selmane Felipe de Oliveira
A primeira pergunta que surge sobre a aplicação das normas científicas é: padronizar para quê? Fala-se muito no rigor das normas da ABNT... e mais: sempre aparecem comentários afirmando que as normas mudaram, que existe uma "nova ABNT"... Isso sem falar nas diferenças entre as propostas dos livros de metodologia no Brasil.
Qual seria, então, o caminho a seguir? Não vamos inventar a roda... Existe um padrão internacional que é seguido, com certa flexibilidade por autores que publicam em inglês, francês, alemão e outras línguas. As diferenças são mínimas. Todos os livros apresentam bibliografias, notas de rodapé, citações. Ainda são usados termos considerados universais, como Idem, Ibidem, Op. Cit., entre outros.
Apesar da forma ser respeitada, que importa, nestes casos, é o conteúdo do trabalho. Nas livrarias destes países – como Inglaterra, França e Alemanha - não é comum encontrar livros de metodologia. Uma exceção é o "Como se escreve uma tese" de Umberto Eco, que ele fez pensando especificamente nas dificuldades dos estudantes italianos.
No Brasil, mesmo em defesas de dissertações ou de teses, ainda se gasta muito tempo discutindo a apresentação gráfica do trabalho e as chamadas normas científicas. Algo que deveria servir como padrão tornou-se objeto de polêmicas. Muitos professores confundem as técnicas e chegam a "inventar" (indevidamente) alguns tipos de trabalhos (podendo pedir, por exemplo, uma análise temática com a "conclusão" do aluno - o que está incorreto, pois esta técnica trata somente da compreensão do texto, a interpretação ou crítica do aluno viria em outro tipo de trabalho). Do ponto de vista dos alunos, o caso é ainda mais grave. Para os estudantes universitários, fazer trabalhos é copiar as principais partes dos livros. Obviamente, este procedimento é inadequado, sobretudo se pensarmos que existem várias formas de trabalhos científicos.
Quando pensamos no ponto de vista do professor universitário, algumas questões devem ser pensadas:
. O que cobrar do aluno?
. Quando? No 1o e 2o períodos? Do 3o ao 6o períodos? No final do curso?
. Qual é o lugar do aluno? Leitor ou autor?
. Trata-se de um trabalho escrito ou de uma apresentação oral?
Primeiro, devemos lembrar que a melhor forma de organizar os estudos é através de fichas. Seja na graduação ou na pós-graduação, a base metodológica dos trabalhos está na elaboração de dois modelos de fichas: a ficha temática e a ficha bibliográfica. A estrutura destas fichas é simples: no primeiro caso, basta identificar o tema e no corpo da ficha virá todo tipo de informação (de várias fontes) que aborda aquele assunto; no segundo caso, coloca-se a referência bibliográfica e na ficha vem algum tipo de trabalho sobre o livro citado (esquema, resumos, análise textual, análise temática, resenha crítica, etc.).
Antonio Joaquim Severino se refere a estas fichas como ficha de documentação temática e ficha de documentação bibliográfica (ele ainda propõe uma ficha de documentação de autor). Para ele, o estudante universitário deve elaborar três tipos de documentação: a temática (que depende de um plano, quando se estabelecem os temas e os subtemas, como no caso de uma monografia), a bibliográfica (que se refere basicamente ao conteúdo dos livros) e a geral (a sua sugestão é guardar os materiais de fontes perecíveis - recorte de jornais, revistas, fotocópias, etc - em pastas, com os títulos e as devidas referências bibliográficas). Hoje, com o avanço da informática, pode-se tentar organizar toda esta documentação no próprio computador, utilizando técnicas modernas como o scanner e a internet.
Em relação à leitura de textos, são apresentadas três técnicas fundamentais. A análise textual é a fase de "preparação da leitura" (SEVERINO, 1992, p. 18), quando o aluno vai esclarecer as suas dúvidas, pesquisando informações sobre o autor da obra e os autores citados no texto, vocabulário, doutrinas e fatos históricos, além de fazer um esquema no final do trabalho.
Após esta fase, o aluno parte para a análise temática, quando ele vai identificar o tema, o problema, a tese e a argumentação (raciocínio) do autor. Nesta fase, até para facilitar a compreensão do aluno, uma sugestão seria analisar separadamente estas questões.
A sua interpretação sobre a obra aparece somente na análise interpretativa. Duas etapas caracterizam esta fase: primeiro, o aluno vai comparar a unidade analisada com o pensamento geral do autor. Depois, ele compara esta unidade "com a cultura filosófica em geral." (SEVERINO, 1992, p. 18) O seu objetivo, com este trabalho, é analisar adequadamente a obra, baseando-se em dois pontos fundamentais: a coerência e a originalidade do autor.
Outra técnica importante é o esquema, que tem como principal função apresentar uma visão global da obra analisada, baseando-se nas principais idéias do autor. A principal diferença do esquema e do resumo, é que este último é formado por parágrafos. Além disto, o resumo é feito com as próprias palavras do aluno. Se ele quiser copiar alguma frase do texto básico, ele deve utilizar aspas. Apesar destas características, que todos os resumos devem ter, podemos ainda analisar algumas diferenças entre eles.
No resumo pedagógico, além da análise das principais idéias do autor, admite-se no final a crítica do aluno. O resumo indicativo é mais sucinto. Em apenas um parágrafo, com frases curtas, indica-se as principais temáticas do texto básico. Já o resumo analítico é mais completo, na medida em que o aluno tem que explicar as idéias mais importantes do autor. No final deste resumo, apresentam-se as palavras-chave. Deve ser lembrado que a crítica do aluno, que não aparece nestes resumos (indicativo e analítico), vai se destacar no resumo crítico. Exatamente por isso, neste último tipo de resumo, "não pode haver citações." (LAKATOS, 1992, p. 74)
Alguns professores insistem em cobrar resenhas dos alunos de primeiro período. Tecnicamente, essa postura não seria adequada, pois o aluno não teria condições de elaborar um crítica adequada sobre a obra de um autor. A resenha crítica, na verdade, deve ser classificada com uma forma de publicação. É comum encontrarmos em revistas científicas tanto resenhas, como artigos. A estrutura de uma resenha deve vir, no mínimo, com a referência bibliográfica da obra, numa primeira parte, sendo apresentadas as credenciais do autor, a sua conclusão e um resumo do seu livro. Numa segunda parte, viria a crítica do resenhista e, se for o caso, o público que seria indicado para ler tal obra.
Para alunos em fase final do curso de graduação, alguns professores pedem trabalhos na forma de artigos científicos. A atitude é correta, pois serve como um incentivo para que, posteriormente, o aluno se interesse em publicar os seus trabalhos e divulgar as suas idéias. Deve ser lembrado, contudo, que o artigo deve obedecer uma estrutura técnica. Além do título e do nome do autor, no caso o próprio aluno, antes do texto do artigo, devem ser apresentados separadamente a sinopse – o resumo do artigo, algumas vezes também em inglês – e as credenciais do autor.
O corpo do artigo, como em outros trabalhos científicos, deve ser dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão. Em seguida deve ser apresentada a bibliografia e a relação das fontes. Se houver anexos ou apêndices, eles também devem ser apresentados no final do artigo.
É comum os alunos reclamarem dos seminários cobrados pelos professores. Eles argumentam que quando o professor utiliza tal técnica, na verdade, ele não quer preparar aula e coloca os alunos para apresentar os textos da disciplina. Isso pode ser verdade caso durante a aula não ocorra nenhum debate e o próprio professor não se posicione sobre a discussão, inclusive corrigindo informações equivocadas. Existem casos ainda mais complicados, quando o professor pede ao aluno para apresentar um tema e o aluno traz um convidado que fala durante todo o tempo, sem a participação efetiva dos alunos ou do próprio professor. Seminário, claro, não é isso.
A estrutura de um seminário em sala de aula deve começar com a fala do professor, que associaria o tema ao conteúdo da disciplina e relacionaria as idéias discutidas na última aula com a sua proposta de debate para aquele dia. Em seguida, os alunos responsáveis pelo seminário fariam a sua apresentação, esclarecendo a dinâmica da atividade e quando seria o melhor momento para a discussão com toda a sala. Após a apresentação, viria o debate com a participação de todos, seguido das considerações finais do grupo que apresentou o seminário. O fechamento caberia ao professor, que analisaria a apresentação, o debate, indicando as falhas e os acertos do dia e antecipando o que ocorreria na próxima aula.
No que diz respeito à pesquisa (mesmo sendo somente bibliográfica), a melhor maneira do aluno apresentar o seu trabalho é adotando o modelo da monografia. Ou seja, no mínimo um trabalho deve ter: capa, página de rosto, sumário, introdução, desenvolvimento (os capítulos), conclusão e bibliografia. O aluno deve redigir o trabalho com as suas próprias palavras. Se ele quiser copiar alguma parte de um livro, ele deve utilizar aspas e citar a fonte (a maneira mais simples, é ele numerar a bibliografia e colocar o número do livro e a página após a citação entre parênteses).
Como vimos, é possível fazer esse trabalho somente com a pesquisa bibliográfica. Em trabalhos que os alunos irão utilizar fontes primárias, seria necessária a elaboração de um projeto de pesquisa. Ele é importante pois serve para o aluno como um mapa para que ele não fique perdido na hora da coleta de dados. Afinal, como ele poderia definir qual informação seria importante e qual seria secundária? Que tipo de fonte ele iria pesquisar? Qual seria a sua metodologia?
O projeto de pesquisa, além da capa, página de rosto, sumário, deve ser elaborado em um texto corrido, separando cada item, por exemplo, com dois espaços entre as linhas.
A primeira coisa que deve ser definida no projeto é o tema da pesquisa. Trata-se basicamente do assunto do trabalho. Ele pode ser definido com uma ou duas palavras. Ele é diferente do título, que deve ser mais detalhado, dando uma noção do conteúdo do projeto.
Em seguida, sugere-se a delimitação do tema. Em um parágrafo, devem ser explicados os cortes feitos pelo pesquisador, como, por exemplo, restringindo a sua pesquisa a uma cidade ou delimitando a coleta de dados em um período especifico – como o governo Collor, entre 1990 e 1992.
A justificativa é um dos principais pontos do projeto. Trata-se de um texto no qual o pesquisador, com as suas palavras, discorrerá sobre a importância do tema e da pesquisa.
Os objetivos devem vir separados, diferenciando o geral dos específicos. O problema da pesquisa deve vir na forma de pergunta, com pelo menos duas variáveis. A hipótese seria a resposta provisória do problema. Ela pode ser subdividida em hipótese básica e hipóteses secundárias.
Não existe projeto sem metodologia. Aqui o aluno deve explicar como será feita a pesquisa e quais fontes ele pretende utilizar. No embasamento teórico, ele faz um texto explicando os principais conceitos que irão nortear a coleta de dados.
No projeto de pesquisa, poderia, ainda, ser apresentado um cronograma, quando o pesquisador explicaria o que seria feito e quando, e um orçamento, indicando os custos da pesquisa tanto em relação aos materiais usados como quanto a contratação de pessoal.
Poucos apresentam o instrumento de pesquisa. Alguns o confundem com os anexos ou os apêndices. O instrumento de pesquisa é usado quando o aluno deseja mostrar, por exemplo, o modelo de um formulário ou o roteiro de perguntas de uma entrevista.
Os anexos ou apêndices não devem vir no projeto e sim nos trabalhos finais, como as monografias ou relatórios de pesquisa, lembrando que ambos são documentos complementares ao trabalho, sendo que, enquanto o apêndice é um documento elaborado pelo próprio autor da pesquisa, os anexos seriam documentos criados por outros autores.
A última parte do projeto de pesquisa, claro, é a bibliografia. Recomenda-se separar os tipos de fontes usadas na elaboração do projeto, como artigos, livros ou mesmo material coletado na internet.
Um tema que gera certa polêmica é a elaboração de relatórios. Basicamente, podemos sugerir dois tipos de relatórios. Um seria o relatório técnico, aquele que os bolsistas entregam no final do semestre, descrevendo as atividades desenvolvidas no período. Esse modelo é simples: basta dividi-lo em três partes: primeiro, viriam os dados da instituição, do curso e do aluno, em seguida seriam apresentadas, em tópicos, as atividades feitas e, numa terceiro momento, seriam divulgadas as próximas etapas do trabalho. Em anexo viriam os comprovantes das atividades.
Esse tipo de relatório poderia ser utilizado, com algumas alterações, quando o professor pede um relatório de uma visita técnica, por exemplo. Neste caso, após a apresentação dos dados gerais - instituição, curso e nome do aluno, entre outros – viria a descrição dos fatos mais importantes da visita. Aqui o professor poderia optar entre a apresentação por tópicos ou por parágrafos.
O outro tipo de relatório é o relatório de pesquisa. Trata-se de um trabalho mais elaborado, podendo ser, inclusive, cobrado, como trabalho de conclusão de curso. Esse relatório só pode ser feito depois da elaboração de um projeto e a realização de uma pesquisa tanto com fontes primárias como com fontes secundárias.
A apresentação do trabalho viria com a capa, página de rosto, sinopse e sumário. O corpo do texto começaria com a introdução, quando seriam analisados o tema, os objetivos, os problemas, as hipóteses e a justificativa da pesquisa. Em seguida, separadamente, viria a revisão da bibliografia, a metodologia, e o embasamento teórico. Esses itens, apesar de terem sido utilizados no projeto de pesquisa, podem ser melhorados no relatório.
Após o embasamento teórico viria a apresentação dos dados e sua análise, seguida pela interpretação dos resultados. Nestes casos, se houve uma pesquisa quantitativa, deve-se usar, na apresentação dos dados, gráficos, quadros e tabelas. Recomenda-se que o professor lembre ao aluno que o gráfico não pode ser apresentado sem a análise do estudante, como se fosse uma ilustração. No final do relatório de pesquisa, são apresentadas as conclusões, recomendações e sugestões, apêndices, anexos e bibliografia.
Muitos argumentam que são vários detalhes e que somente os professores de metodologia prestam atenção nestas técnicas. Outros, quando se deparam com qualquer problema na apresentação dos trabalhos, falam para os alunos que eles devem procurar o professor de metodologia, como se esse assunto fosse responsabilidade exclusiva desse profissional. Não é. De nada ainda existir um padrão de normas cientificas se todos os professores não cobrarem dos alunos essas técnicas no cotidiano da sala de aula.
BIBLIOGRAFIA
ECO, Umberto. Como se faz uma Tese. 10. ed., São Paulo: Perspectiva, 1993.
GRAY, Wood. Historian’s handbook. Boston: Houghton Mifflin, 1964.
LAKATOS, Eva M. e MARCONI, Marina A. Metodologia do trabalho científico. 4. ed., São Paulo: Atlas, 1992.
LEVINE, S. Joseph. Writing and presenting your thesis or dissertation. Michigan: Leaner Associates, 2005.
MORIN, Edgar. La méthode: la connaissance de la connaissance. Paris: Éditions du Seuil, 1986.
RUIZ, João A. Metodologia científica: guia para a eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1977.
SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. 18. ed., São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1992.
Prof. Dr. Selmane Felipe de Oliveira
A primeira pergunta que surge sobre a aplicação das normas científicas é: padronizar para quê? Fala-se muito no rigor das normas da ABNT... e mais: sempre aparecem comentários afirmando que as normas mudaram, que existe uma "nova ABNT"... Isso sem falar nas diferenças entre as propostas dos livros de metodologia no Brasil.
Qual seria, então, o caminho a seguir? Não vamos inventar a roda... Existe um padrão internacional que é seguido, com certa flexibilidade por autores que publicam em inglês, francês, alemão e outras línguas. As diferenças são mínimas. Todos os livros apresentam bibliografias, notas de rodapé, citações. Ainda são usados termos considerados universais, como Idem, Ibidem, Op. Cit., entre outros.
Apesar da forma ser respeitada, que importa, nestes casos, é o conteúdo do trabalho. Nas livrarias destes países – como Inglaterra, França e Alemanha - não é comum encontrar livros de metodologia. Uma exceção é o "Como se escreve uma tese" de Umberto Eco, que ele fez pensando especificamente nas dificuldades dos estudantes italianos.
No Brasil, mesmo em defesas de dissertações ou de teses, ainda se gasta muito tempo discutindo a apresentação gráfica do trabalho e as chamadas normas científicas. Algo que deveria servir como padrão tornou-se objeto de polêmicas. Muitos professores confundem as técnicas e chegam a "inventar" (indevidamente) alguns tipos de trabalhos (podendo pedir, por exemplo, uma análise temática com a "conclusão" do aluno - o que está incorreto, pois esta técnica trata somente da compreensão do texto, a interpretação ou crítica do aluno viria em outro tipo de trabalho). Do ponto de vista dos alunos, o caso é ainda mais grave. Para os estudantes universitários, fazer trabalhos é copiar as principais partes dos livros. Obviamente, este procedimento é inadequado, sobretudo se pensarmos que existem várias formas de trabalhos científicos.
Quando pensamos no ponto de vista do professor universitário, algumas questões devem ser pensadas:
. O que cobrar do aluno?
. Quando? No 1o e 2o períodos? Do 3o ao 6o períodos? No final do curso?
. Qual é o lugar do aluno? Leitor ou autor?
. Trata-se de um trabalho escrito ou de uma apresentação oral?
Primeiro, devemos lembrar que a melhor forma de organizar os estudos é através de fichas. Seja na graduação ou na pós-graduação, a base metodológica dos trabalhos está na elaboração de dois modelos de fichas: a ficha temática e a ficha bibliográfica. A estrutura destas fichas é simples: no primeiro caso, basta identificar o tema e no corpo da ficha virá todo tipo de informação (de várias fontes) que aborda aquele assunto; no segundo caso, coloca-se a referência bibliográfica e na ficha vem algum tipo de trabalho sobre o livro citado (esquema, resumos, análise textual, análise temática, resenha crítica, etc.).
Antonio Joaquim Severino se refere a estas fichas como ficha de documentação temática e ficha de documentação bibliográfica (ele ainda propõe uma ficha de documentação de autor). Para ele, o estudante universitário deve elaborar três tipos de documentação: a temática (que depende de um plano, quando se estabelecem os temas e os subtemas, como no caso de uma monografia), a bibliográfica (que se refere basicamente ao conteúdo dos livros) e a geral (a sua sugestão é guardar os materiais de fontes perecíveis - recorte de jornais, revistas, fotocópias, etc - em pastas, com os títulos e as devidas referências bibliográficas). Hoje, com o avanço da informática, pode-se tentar organizar toda esta documentação no próprio computador, utilizando técnicas modernas como o scanner e a internet.
Em relação à leitura de textos, são apresentadas três técnicas fundamentais. A análise textual é a fase de "preparação da leitura" (SEVERINO, 1992, p. 18), quando o aluno vai esclarecer as suas dúvidas, pesquisando informações sobre o autor da obra e os autores citados no texto, vocabulário, doutrinas e fatos históricos, além de fazer um esquema no final do trabalho.
Após esta fase, o aluno parte para a análise temática, quando ele vai identificar o tema, o problema, a tese e a argumentação (raciocínio) do autor. Nesta fase, até para facilitar a compreensão do aluno, uma sugestão seria analisar separadamente estas questões.
A sua interpretação sobre a obra aparece somente na análise interpretativa. Duas etapas caracterizam esta fase: primeiro, o aluno vai comparar a unidade analisada com o pensamento geral do autor. Depois, ele compara esta unidade "com a cultura filosófica em geral." (SEVERINO, 1992, p. 18) O seu objetivo, com este trabalho, é analisar adequadamente a obra, baseando-se em dois pontos fundamentais: a coerência e a originalidade do autor.
Outra técnica importante é o esquema, que tem como principal função apresentar uma visão global da obra analisada, baseando-se nas principais idéias do autor. A principal diferença do esquema e do resumo, é que este último é formado por parágrafos. Além disto, o resumo é feito com as próprias palavras do aluno. Se ele quiser copiar alguma frase do texto básico, ele deve utilizar aspas. Apesar destas características, que todos os resumos devem ter, podemos ainda analisar algumas diferenças entre eles.
No resumo pedagógico, além da análise das principais idéias do autor, admite-se no final a crítica do aluno. O resumo indicativo é mais sucinto. Em apenas um parágrafo, com frases curtas, indica-se as principais temáticas do texto básico. Já o resumo analítico é mais completo, na medida em que o aluno tem que explicar as idéias mais importantes do autor. No final deste resumo, apresentam-se as palavras-chave. Deve ser lembrado que a crítica do aluno, que não aparece nestes resumos (indicativo e analítico), vai se destacar no resumo crítico. Exatamente por isso, neste último tipo de resumo, "não pode haver citações." (LAKATOS, 1992, p. 74)
Alguns professores insistem em cobrar resenhas dos alunos de primeiro período. Tecnicamente, essa postura não seria adequada, pois o aluno não teria condições de elaborar um crítica adequada sobre a obra de um autor. A resenha crítica, na verdade, deve ser classificada com uma forma de publicação. É comum encontrarmos em revistas científicas tanto resenhas, como artigos. A estrutura de uma resenha deve vir, no mínimo, com a referência bibliográfica da obra, numa primeira parte, sendo apresentadas as credenciais do autor, a sua conclusão e um resumo do seu livro. Numa segunda parte, viria a crítica do resenhista e, se for o caso, o público que seria indicado para ler tal obra.
Para alunos em fase final do curso de graduação, alguns professores pedem trabalhos na forma de artigos científicos. A atitude é correta, pois serve como um incentivo para que, posteriormente, o aluno se interesse em publicar os seus trabalhos e divulgar as suas idéias. Deve ser lembrado, contudo, que o artigo deve obedecer uma estrutura técnica. Além do título e do nome do autor, no caso o próprio aluno, antes do texto do artigo, devem ser apresentados separadamente a sinopse – o resumo do artigo, algumas vezes também em inglês – e as credenciais do autor.
O corpo do artigo, como em outros trabalhos científicos, deve ser dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão. Em seguida deve ser apresentada a bibliografia e a relação das fontes. Se houver anexos ou apêndices, eles também devem ser apresentados no final do artigo.
É comum os alunos reclamarem dos seminários cobrados pelos professores. Eles argumentam que quando o professor utiliza tal técnica, na verdade, ele não quer preparar aula e coloca os alunos para apresentar os textos da disciplina. Isso pode ser verdade caso durante a aula não ocorra nenhum debate e o próprio professor não se posicione sobre a discussão, inclusive corrigindo informações equivocadas. Existem casos ainda mais complicados, quando o professor pede ao aluno para apresentar um tema e o aluno traz um convidado que fala durante todo o tempo, sem a participação efetiva dos alunos ou do próprio professor. Seminário, claro, não é isso.
A estrutura de um seminário em sala de aula deve começar com a fala do professor, que associaria o tema ao conteúdo da disciplina e relacionaria as idéias discutidas na última aula com a sua proposta de debate para aquele dia. Em seguida, os alunos responsáveis pelo seminário fariam a sua apresentação, esclarecendo a dinâmica da atividade e quando seria o melhor momento para a discussão com toda a sala. Após a apresentação, viria o debate com a participação de todos, seguido das considerações finais do grupo que apresentou o seminário. O fechamento caberia ao professor, que analisaria a apresentação, o debate, indicando as falhas e os acertos do dia e antecipando o que ocorreria na próxima aula.
No que diz respeito à pesquisa (mesmo sendo somente bibliográfica), a melhor maneira do aluno apresentar o seu trabalho é adotando o modelo da monografia. Ou seja, no mínimo um trabalho deve ter: capa, página de rosto, sumário, introdução, desenvolvimento (os capítulos), conclusão e bibliografia. O aluno deve redigir o trabalho com as suas próprias palavras. Se ele quiser copiar alguma parte de um livro, ele deve utilizar aspas e citar a fonte (a maneira mais simples, é ele numerar a bibliografia e colocar o número do livro e a página após a citação entre parênteses).
Como vimos, é possível fazer esse trabalho somente com a pesquisa bibliográfica. Em trabalhos que os alunos irão utilizar fontes primárias, seria necessária a elaboração de um projeto de pesquisa. Ele é importante pois serve para o aluno como um mapa para que ele não fique perdido na hora da coleta de dados. Afinal, como ele poderia definir qual informação seria importante e qual seria secundária? Que tipo de fonte ele iria pesquisar? Qual seria a sua metodologia?
O projeto de pesquisa, além da capa, página de rosto, sumário, deve ser elaborado em um texto corrido, separando cada item, por exemplo, com dois espaços entre as linhas.
A primeira coisa que deve ser definida no projeto é o tema da pesquisa. Trata-se basicamente do assunto do trabalho. Ele pode ser definido com uma ou duas palavras. Ele é diferente do título, que deve ser mais detalhado, dando uma noção do conteúdo do projeto.
Em seguida, sugere-se a delimitação do tema. Em um parágrafo, devem ser explicados os cortes feitos pelo pesquisador, como, por exemplo, restringindo a sua pesquisa a uma cidade ou delimitando a coleta de dados em um período especifico – como o governo Collor, entre 1990 e 1992.
A justificativa é um dos principais pontos do projeto. Trata-se de um texto no qual o pesquisador, com as suas palavras, discorrerá sobre a importância do tema e da pesquisa.
Os objetivos devem vir separados, diferenciando o geral dos específicos. O problema da pesquisa deve vir na forma de pergunta, com pelo menos duas variáveis. A hipótese seria a resposta provisória do problema. Ela pode ser subdividida em hipótese básica e hipóteses secundárias.
Não existe projeto sem metodologia. Aqui o aluno deve explicar como será feita a pesquisa e quais fontes ele pretende utilizar. No embasamento teórico, ele faz um texto explicando os principais conceitos que irão nortear a coleta de dados.
No projeto de pesquisa, poderia, ainda, ser apresentado um cronograma, quando o pesquisador explicaria o que seria feito e quando, e um orçamento, indicando os custos da pesquisa tanto em relação aos materiais usados como quanto a contratação de pessoal.
Poucos apresentam o instrumento de pesquisa. Alguns o confundem com os anexos ou os apêndices. O instrumento de pesquisa é usado quando o aluno deseja mostrar, por exemplo, o modelo de um formulário ou o roteiro de perguntas de uma entrevista.
Os anexos ou apêndices não devem vir no projeto e sim nos trabalhos finais, como as monografias ou relatórios de pesquisa, lembrando que ambos são documentos complementares ao trabalho, sendo que, enquanto o apêndice é um documento elaborado pelo próprio autor da pesquisa, os anexos seriam documentos criados por outros autores.
A última parte do projeto de pesquisa, claro, é a bibliografia. Recomenda-se separar os tipos de fontes usadas na elaboração do projeto, como artigos, livros ou mesmo material coletado na internet.
Um tema que gera certa polêmica é a elaboração de relatórios. Basicamente, podemos sugerir dois tipos de relatórios. Um seria o relatório técnico, aquele que os bolsistas entregam no final do semestre, descrevendo as atividades desenvolvidas no período. Esse modelo é simples: basta dividi-lo em três partes: primeiro, viriam os dados da instituição, do curso e do aluno, em seguida seriam apresentadas, em tópicos, as atividades feitas e, numa terceiro momento, seriam divulgadas as próximas etapas do trabalho. Em anexo viriam os comprovantes das atividades.
Esse tipo de relatório poderia ser utilizado, com algumas alterações, quando o professor pede um relatório de uma visita técnica, por exemplo. Neste caso, após a apresentação dos dados gerais - instituição, curso e nome do aluno, entre outros – viria a descrição dos fatos mais importantes da visita. Aqui o professor poderia optar entre a apresentação por tópicos ou por parágrafos.
O outro tipo de relatório é o relatório de pesquisa. Trata-se de um trabalho mais elaborado, podendo ser, inclusive, cobrado, como trabalho de conclusão de curso. Esse relatório só pode ser feito depois da elaboração de um projeto e a realização de uma pesquisa tanto com fontes primárias como com fontes secundárias.
A apresentação do trabalho viria com a capa, página de rosto, sinopse e sumário. O corpo do texto começaria com a introdução, quando seriam analisados o tema, os objetivos, os problemas, as hipóteses e a justificativa da pesquisa. Em seguida, separadamente, viria a revisão da bibliografia, a metodologia, e o embasamento teórico. Esses itens, apesar de terem sido utilizados no projeto de pesquisa, podem ser melhorados no relatório.
Após o embasamento teórico viria a apresentação dos dados e sua análise, seguida pela interpretação dos resultados. Nestes casos, se houve uma pesquisa quantitativa, deve-se usar, na apresentação dos dados, gráficos, quadros e tabelas. Recomenda-se que o professor lembre ao aluno que o gráfico não pode ser apresentado sem a análise do estudante, como se fosse uma ilustração. No final do relatório de pesquisa, são apresentadas as conclusões, recomendações e sugestões, apêndices, anexos e bibliografia.
Muitos argumentam que são vários detalhes e que somente os professores de metodologia prestam atenção nestas técnicas. Outros, quando se deparam com qualquer problema na apresentação dos trabalhos, falam para os alunos que eles devem procurar o professor de metodologia, como se esse assunto fosse responsabilidade exclusiva desse profissional. Não é. De nada ainda existir um padrão de normas cientificas se todos os professores não cobrarem dos alunos essas técnicas no cotidiano da sala de aula.
BIBLIOGRAFIA
ECO, Umberto. Como se faz uma Tese. 10. ed., São Paulo: Perspectiva, 1993.
GRAY, Wood. Historian’s handbook. Boston: Houghton Mifflin, 1964.
LAKATOS, Eva M. e MARCONI, Marina A. Metodologia do trabalho científico. 4. ed., São Paulo: Atlas, 1992.
LEVINE, S. Joseph. Writing and presenting your thesis or dissertation. Michigan: Leaner Associates, 2005.
MORIN, Edgar. La méthode: la connaissance de la connaissance. Paris: Éditions du Seuil, 1986.
RUIZ, João A. Metodologia científica: guia para a eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1977.
SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. 18. ed., São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1992.