ESTRUTURALISMO, MARXISMO E MUNDO REAL
O niilismo atual não seria possível sem os debates sobre o estruturalismo na década de 1960. Duccio Trimbadori afirmava que o marco das discussões seria o lançamento de “As Palavras e as Coisas” (1966) de Michel Foucault.
Havia, para Foucault, algo em comum em todas as críticas: a problematização da “primazia do sujeito.”* Até então, havia uma hegemonia do marxismo no discurso científico e aparecia como inquestionável a ideia de que “o homem seria o sujeito da história.” Mexer ou mesmo abandonar tal premissa teria gerado toda a confusão teórica nos anos 1960. Isso, aliás, foi o que Foucault fez ao final do seu livro de 1966:
“O homem é uma invenção da arqueologia de nosso pensamento como mostra facilmente os dados mais recentes. E talvez esteja próximo do fim.” No original em francês: “L'homme est une invention dont archéologie de notre pensée montre aisément la data récente. Et peut-être la fin prochaine.” (Les Mots e Les Choses, p. 398)
Michel Foucault defendia a tese de que a verdadeira origem de tais discussões seria a década de 1920, no leste europeu, especificamente na época da Revolução de 1917, quando a proposta de tal método era colocada. Ela teria sido reprimida e abandonada após a chegada de Stalin ao poder. Somente depois, bem depois, que os pensadores franceses, como Lévi-Strass, teriam acesso a este tipo de proposta e, na França, os debates ganhariam força, nos anos 1960, com a indignação dos marxistas.
De qualquer maneira, neste contexto, algo incontestável seria que os principais protagonistas dos debates seriam, de um lado, os marxistas e, de outro, os chamados “estruturalistas”.
Deve ser lembrada ainda a crise de 1956 (com Krushchev), quando os marxistas de todo o mundo souberam da repressão violenta e dos crimes cometidos por Stalin. Se, depois de 1917, marxismo e comunismo apareciam quase como sinônimos (contando aqui com a defesa da Revolução de 1917 e da URSS); haveria, após 1956, várias dissidências quanto ao apoio ao que acontecia no leste europeu. Na Inglaterra, por exemplo, intelectuais importantes (entre eles Eric Hobsbawm) continuaram marxistas, mas houve um afastamento e críticas sobre o totalitarismo soviético. Na França, o debate foi outro: a questão não era simplesmente criticar a realidade da URSS, tratava-se de problematizar as próprias premissas do marxismo. Os intelctuais que escolheram esse caminho foram classificados como “estruturalistas” (apesar das diferenças entre eles, como Lévi-Strauss, Lacan e o próprio Foucault).
O “mundo das ideias”, aparentemente, mudava antes do mundo real. A verdadeira derrota do marxismo, aos olhos da maioria, começaria em 1989, com a queda do Muro de Berlim. A busca de liberdade chegou ao leste europeu e o que não era imaginado aconteceu: o fim da URSS em 1991. Foi um longo caminho: 1848, ano do “Manifesto do Partido Comunista” de Marx e Engels; 1917, a Revolução da Rússia; 1949, a Revolução na China; 1956, a revelação oficial dos crimes de Stalin (com Krushchev); 1959, a Revolução em Cuba – o avanço dos estruturalistas e pós-estruturalistas (assumidos ou não) no século XX – e, finalmente, a séria crise do leste europeu.
Na visão dos líderes dos Estados Unidos, em 2001, o comunismo perderia o “status” de principal inimigo da humanidade com a derrubada das torres do World Trade Center.
A partir deste acontecimento foi preciso construir um discurso contra algo que parecia pouco provável como fator de ameaça ao modo de produção capitalista: o islamismo.
Resta saber, agora, diante todas as mudanças no mundo real e no imaginário ocidental, o que resta a fazer. O niilismo chama a atenção num primeiro momento. Entretanto, até algo assim, claro, cansa.
(*) “(…) the need to oppose that set of philosophical elaborations, considerations, and analyses centered essentially on the theoretical affirmation of the primacy of the subject.” (Michel Foucault, Remarks on Marx, p. 85-86)
O niilismo atual não seria possível sem os debates sobre o estruturalismo na década de 1960. Duccio Trimbadori afirmava que o marco das discussões seria o lançamento de “As Palavras e as Coisas” (1966) de Michel Foucault.
Havia, para Foucault, algo em comum em todas as críticas: a problematização da “primazia do sujeito.”* Até então, havia uma hegemonia do marxismo no discurso científico e aparecia como inquestionável a ideia de que “o homem seria o sujeito da história.” Mexer ou mesmo abandonar tal premissa teria gerado toda a confusão teórica nos anos 1960. Isso, aliás, foi o que Foucault fez ao final do seu livro de 1966:
“O homem é uma invenção da arqueologia de nosso pensamento como mostra facilmente os dados mais recentes. E talvez esteja próximo do fim.” No original em francês: “L'homme est une invention dont archéologie de notre pensée montre aisément la data récente. Et peut-être la fin prochaine.” (Les Mots e Les Choses, p. 398)
Michel Foucault defendia a tese de que a verdadeira origem de tais discussões seria a década de 1920, no leste europeu, especificamente na época da Revolução de 1917, quando a proposta de tal método era colocada. Ela teria sido reprimida e abandonada após a chegada de Stalin ao poder. Somente depois, bem depois, que os pensadores franceses, como Lévi-Strass, teriam acesso a este tipo de proposta e, na França, os debates ganhariam força, nos anos 1960, com a indignação dos marxistas.
De qualquer maneira, neste contexto, algo incontestável seria que os principais protagonistas dos debates seriam, de um lado, os marxistas e, de outro, os chamados “estruturalistas”.
Deve ser lembrada ainda a crise de 1956 (com Krushchev), quando os marxistas de todo o mundo souberam da repressão violenta e dos crimes cometidos por Stalin. Se, depois de 1917, marxismo e comunismo apareciam quase como sinônimos (contando aqui com a defesa da Revolução de 1917 e da URSS); haveria, após 1956, várias dissidências quanto ao apoio ao que acontecia no leste europeu. Na Inglaterra, por exemplo, intelectuais importantes (entre eles Eric Hobsbawm) continuaram marxistas, mas houve um afastamento e críticas sobre o totalitarismo soviético. Na França, o debate foi outro: a questão não era simplesmente criticar a realidade da URSS, tratava-se de problematizar as próprias premissas do marxismo. Os intelctuais que escolheram esse caminho foram classificados como “estruturalistas” (apesar das diferenças entre eles, como Lévi-Strauss, Lacan e o próprio Foucault).
O “mundo das ideias”, aparentemente, mudava antes do mundo real. A verdadeira derrota do marxismo, aos olhos da maioria, começaria em 1989, com a queda do Muro de Berlim. A busca de liberdade chegou ao leste europeu e o que não era imaginado aconteceu: o fim da URSS em 1991. Foi um longo caminho: 1848, ano do “Manifesto do Partido Comunista” de Marx e Engels; 1917, a Revolução da Rússia; 1949, a Revolução na China; 1956, a revelação oficial dos crimes de Stalin (com Krushchev); 1959, a Revolução em Cuba – o avanço dos estruturalistas e pós-estruturalistas (assumidos ou não) no século XX – e, finalmente, a séria crise do leste europeu.
Na visão dos líderes dos Estados Unidos, em 2001, o comunismo perderia o “status” de principal inimigo da humanidade com a derrubada das torres do World Trade Center.
A partir deste acontecimento foi preciso construir um discurso contra algo que parecia pouco provável como fator de ameaça ao modo de produção capitalista: o islamismo.
Resta saber, agora, diante todas as mudanças no mundo real e no imaginário ocidental, o que resta a fazer. O niilismo chama a atenção num primeiro momento. Entretanto, até algo assim, claro, cansa.
(*) “(…) the need to oppose that set of philosophical elaborations, considerations, and analyses centered essentially on the theoretical affirmation of the primacy of the subject.” (Michel Foucault, Remarks on Marx, p. 85-86)